quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Scot: vendas mais lentas de carne afetam preço da arroba do boi

Em Mato Grosso, margem da indústria está abaixo das médias históricas

Por Redação Globo Rural
criacao_pecuaria_boi_nelore (Foto: Ernesto Souza / Ed. Globo)


O ritmo mais lento das vendas de carne bovina interrompeu o movimento de alta nos preços do boi gordo. A informação foi divulgada nesta terça-feira (30/9) pela Scot consultoria.
De acordo com a consultoria, no mercado paulista, os frigoríficos estão com escalas médias de abate de quatro dias. E com as vendas de carne perdendo força, a necessidade de reforçar escalas também fica menor, o que tira a necessidade de oferecer preços maiores ao produtor.
“Além disso, a recente queda no preço da carne com osso ajudou a brecar as altas da arroba, já que houve redução da margem da indústria. A redução dos abates também tem sido uma opção para controle dos estoques”, diz a consultora Maísa Módolo.
Em Mato Grosso, o Instituto de Economia Agropecuária do Estado (Imea) informa que as margens da indústria de carne bovina estão abaixo das médias históricas. De acordo com a instituição, a arroba do boi gordo aumentou 26% enquanto o chamado ECD (couro, cortes desossados e coprodutos) subiu 16%.
“Há dificuldade da indústria no repasse desses maiores gastos na venda de seus produtos. Além disso, a pesquisa diária do Imea constatou dificuldades na compra de animais. Com a necessidade de aumentar sua lucratividade, a indústria tenta pressionar os valores da arroba, mas esbarra na escassez de animais terminados neste período”, avaliam os técnicos, para quem as exportações de carne devem amenizar o cenário de rentabilidade menor.
Na semana passada, o Instituto registrou preços praticamente estáveis tanto para o boi gordo quando para a vaca gorda. No boi, a alta foi de 0,17%, com a arroba a R$ 115,07. Na vaca, alta de 0,05%, com a arroba a R$ 107,98.


O ritmo mais lento das vendas de carne bovina interrompeu o movimento de alta nos preços do boi gordo. A informação foi divulgada nesta terça-feira (30/9) pela Scot consultoria.
De acordo com a consultoria, no mercado paulista, os frigoríficos estão com escalas médias de abate de quatro dias. E com as vendas de carne perdendo força, a necessidade de reforçar escalas também fica menor, o que tira a necessidade de oferecer preços maiores ao produtor.
“Além disso, a recente queda no preço da carne com osso ajudou a brecar as altas da arroba, já que houve redução da margem da indústria. A redução dos abates também tem sido uma opção para controle dos estoques”, diz a consultora Maísa Módolo.
Em Mato Grosso, o Instituto de Economia Agropecuária do Estado (Imea) informa que as margens da indústria de carne bovina estão abaixo das médias históricas. De acordo com a instituição, a arroba do boi gordo aumentou 26% enquanto o chamado ECD (couro, cortes desossados e coprodutos) subiu 16%.
“Há dificuldade da indústria no repasse desses maiores gastos na venda de seus produtos. Além disso, a pesquisa diária do Imea constatou dificuldades na compra de animais. Com a necessidade de aumentar sua lucratividade, a indústria tenta pressionar os valores da arroba, mas esbarra na escassez de animais terminados neste período”, avaliam os técnicos, para quem as exportações de carne devem amenizar o cenário de rentabilidade menor.
Na semana passada, o Instituto registrou preços praticamente estáveis tanto para o boi gordo quando para a vaca gorda. No boi, a alta foi de 0,17%, com a arroba a R$ 115,07.
Na vaca, alta de 0,05%, com a arroba a R$ 107,98.

Demanda russa por carne já favorece indústria frigorífica em MS


A restrição da Rússia à compra de carnes da União Europeia e dos Estados Unidos em função da crise na Ucrânia aliada à decisão russa de abrir as importações de carne suína, bovina e de frango do Brasil com o credenciamento de 80 frigoríficos brasileiros já está gerando oportunidades de negócios para as indústrias sul-mato-grossenses.

De acordo com o presidente do Sicadems (Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados de Mato Grosso do Sul), Ivo Cescon Scarcelli, essa crise entre a Rússia, os EUA e a União Europeia favorece, sem dúvidas, as exportações de carnes do Estado, principalmente, com o aumento do número de plantas aptas a venderem para o mercado russo.

Apesar de as estatísticas oficiais ainda não revelarem, pois apenas em agosto entraram em vigor as medidas anunciadas pelo governo russo e o reflexo só será sentido a partir de setembro, o aumento da demanda da Rússia já sustenta os preços das carnes brasileiras, principalmente, de aves e suínos.

Atualmente, conforme levantamento do Radar Industrial da Fiems, de janeiro a agosto deste ano, a Rússia já é o principal destino do Complexo Frigorífico do Estado, respondendo por 31,9% dos US$ 819,4 milhões de receita de exportação total do grupo, enquanto, no mesmo período do ano passado, esse percentual era de 17,9% sobre receita de US$ 692,3 milhões.

Além disso, ainda de acordo com o Radar da Fiems, de janeiro a agosto deste ano, a receita das vendas para a Rússia chegou a US$ 261,4 milhões contra US$ 123,6 milhões do mesmo período de 2013, representando um crescimento de 111,4%, sendo que o volume também mais que dobrou, saindo de 31,6 mil toneladas para 64,7 mil toneladas, um aumento de 104,7%.

Ou seja, antes mesmo do início do embargo às carnes provenientes dos Estados Unidos e da União Europeia, as compras russas já lideram as receitas de exportação do Complexo Frigorífico do Estado, possibilitando prever que, a partir de setembro, a expansão será ainda mais expressiva.

"As sanções russas já favorecem o Brasil e o mercado responde bem. Em setembro, já notamos um aumento nas vendas em relação a agosto, quando foi aberto o mercado na Rússia para novos estabelecimentos”, comentou Ivo Scarcelli.

O gerente-geral da planta do JBS localizada na saída para Sidrolândia, Jair Azevedo, também compartilha da mesma opinião. “Já tínhamos detectado um aumento nas exportações no período de janeiro a agosto deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, mas, com as medidas anunciadas pelo governo russo, a partir de outubro, devemos registrar um crescimento maior, com a assinatura de novos contratos”, declarou.

Jair Azevedo acrescenta ainda que a previsão é de que essa alavancada no comércio de carne para a Rússia perdure por pelo menos mais uns 12 meses, contribuindo para o aumento nas exportações. “Esse aumento da demanda é temporário e deve durar o tempo do conflito da Rússia com a Ucrânia”, analisou.
Fonte:  Agrolink

Brasil aumenta exportação de galinha para Rússia em 12 mil toneladas


Brasil, Rússia, frango

No comunicado, divulgado quarta-feira pela Associação Brasileira de Proteína Animal, ABPA, diz-se que a exportação da carne de galinha do Brasil para a Rússia aumentou de 8 mil toneladas em agosto para 20 mil, em setembro.

O documento menciona a declaração do presidente da ABPA Francisco Turra: “O volume total da exportação de galinha brasileira em setembro chegou a 359,6 mil toneladas, superando em 19% o período análogo do ano passado, o que se deve ao aumento de fornecimentos para a Rússia”.
A associação chefiada por Francisco Turra congrega os maiores produtores e exportadores brasileiros de galinha e de carne suína.
Leia mais: http://portuguese.ruvr.ru/news/2014_10_02/Brasil-aumenta-exportacao-de-carne-de-galinha-para-Russia-em-12-mil-toneladas-1281/

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Demanda russa aquece mercado de carnes

Ainda que as estatísticas oficiais não revelem, o aumento da demanda da Rússia já sustenta os preços das carnes brasileiras, principalmente de aves e suínos. Fontes da indústria relatam incremento nos preços em dólar dos produtos destinados àquele país desde que Moscou anunciou que mais de 80 novos estabelecimentos de carnes (de frango, suína e bovina) do Brasil poderiam vender à Rússia, em 8 de agosto.

A medida foi um desdobramento da decisão da Rússia de retaliar produtos, como carnes e lácteos, provenientes dos Estados Unidos, Canadá, Austrália e União Europeia, após sofrer sanções econômicas do grupo por conta do conflito na Ucrânia.

Uma das empresas que tem sido favorecida pela maior demanda da Rússia é a Aurora Alimentos, de Santa Catarina. Segundo o presidente da Aurora, Mário Lanznaster, há um incremento de 30% nos volumes de carne de frango embarcados para a Rússia e os preços ao país subiram cerca de 12% na comparação com os valores negociados antes do embargo russo a americanos e europeus. Mas Lanznaster tem os pés no chão e avalia que o aumento da demanda é temporário. "Vai durar o tempo do conflito [da Rússia] com a Ucrânia".

O presidente da Associação Catarinense de Avicultura (ACAV), Luiz Adalberto Stábile Benício, também é cauteloso e diz que as empresas de aves não estão elevando a produção para atender a Rússia, um cliente reconhecidamente "instável". A estratégia das indústrias, explica, é deixar de atender mercados que pagam menos para vender à Rússia. A Aurora, por exemplo, está deixando de vender alguns cortes para a China para vender ao mercado russo, confirma Lanznaster.

Em mais uma demonstração de cautela, o presidente da ACAV lembra que a Rússia busca autossuficiência na produção de frango, "portanto a demanda maior não deve ser algo perene". Assim, a estimativa da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) de que seja possível ampliar em 150 mil toneladas as vendas de carne de frango à Rússia soa otimista. Para Benício, o volume deve ser "mais modesto".

Para o vice-presidente de aves da ABPA, Ricardo Santin, as sanções russas já favorecem o Brasil. "O mercado já responde bem. Nos primeiros quinze dias de setembro, exportamos para a Rússia mais do que vendemos em todo o mês de agosto", afirma. Os embarques de carne de frango para ao país saltaram de um média mensal de 5 mil toneladas entre janeiro e julho para 8 mil toneladas em agosto. Já em setembro, a expectativa é a que os embarques superem 20 mil toneladas.

Santin confirma que os preços da carne de frango vendida aos russos subiram. Mas pondera que o aumento não aparece, à primeira vista, nas estatísticas da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Uma das razões é que peças como coxa e sobrecoxa, que têm preço mais baixo, são contabilizadas pela Secex na mesma categoria - Nomeclatura Comum do Mercosul (NCM) - que o peito, que tem preço maior. Com o embargo, a Rússia ampliou as importações de coxa e sobrecoxa do Brasil - antes comprava dos EUA. Com isso, o preço médio das exportações brasileiras até caiu. No acumulado de setembro até o dia 14, o preço médio da carne de frango foi de US$ 2,55 o quilo, queda de 6,94% sobre a média de agosto, segundo a ABPA.

Só na primeira quinzena do mês, a receita com as vendas de frango à Rússia somou US$ 20,6 milhões, acima dos US$ 15,8 milhões de todo o mês de setembro de 2013.

No caso da carne bovina, também houve incremento de preços nas vendas à Rússia, mas já começa a haver pressão por parte de importadores por redução. Uma fonte de frigorífico afirma ter ocorrido um avanço entre 5% e 10% na cotações em relação aos preços anteriores à retaliação russa aos EUA e à UE. "Não é muita coisa, mas o suficiente para aquecer o mercado", diz. Segundo a mesma fonte, a alta só não foi maior por conta da queda do real ante o dólar - com isso, as empresas recebem mais reais a cada dólar negociado.

Os russos compram sobretudo cortes de dianteiro do Brasil, cotados hoje entre US$ 4,5 mil e US$ 5 mil por tonelada. Também demandam os chamados "cortes da roda", como coxão mole. Outra fonte da indústria diz que "a percepção é de que os preços de venda para o mercado russo bateram no teto". Ele lembra que a menor oferta de carne bovina no mundo já vinha sustentando os preços de venda para a Rússia mesmo antes das sanções.

Agora, afirma, os importadores russos começam a pressionar para derrubar os preços, pois suas margens despencaram. A razão é que o rublo, assim como o real, está em queda em relação ao dólar. Isso significa que é preciso mais rublos para cada dólar de carne importada.

Para o presidente da Associação Brasileira das Indústria Exportadoras de Carnes (Abiec), Antonio Camardelli, uma elevação mais significativa nas exportações de carne bovina para a Rússia só deve ocorrer no fim de setembro, com os primeiros embarques de miúdos - o país ficou cerca de cinco anos sem exportar. "Acredito que vamos ter variação positiva no fim do mês, com os negócios de miúdos", diz Camardelli. Até agora, porém, o fluxo de embarques de carne bovina para a Rússia segue "normal", segundo ele, e não houve grandes alterações nos preços.

Mas isso pode se mudar caso a Rússia destine mesmo a cota de embarques de carne bovina dos EUA e da UE para outros países, como Brasil e Paraguai. "Se acontecer essa transferência de cotas, o Brasil está pronto para responder", afirma. Camardelli não confirma, mas o Valor apurou que algum tipo de transferência de cotas deve ocorrer. Para 2014, EUA e UE tinham uma cota somada de 120 mil toneladas de carne bovina congelada. Nem todo esse volume seria transferido, uma vez que boa parte já foi embarcada.

Nas primeiras três semanas de setembro, os embarques de carne bovina ao mercado russo alcançaram US$ 100,8 milhões - foram US$ 122,5 milhões em todo o mês de setembro de 2013.

Em carne suína, a avaliação é de que a Rússia já vinha ampliando as compras do Brasil e que esse movimento continua. "Desde fevereiro e março, o volume comprado pela Rússia vem subindo", afirma Rui Vargas, vice-presidente de suínos da ABPA. Nas primeiras três semanas de setembro, o país comprou 11,4 mil toneladas de carne suína do Brasil - mais de 40% do total de 24 mil toneladas vendidas, segundo dados da Secex compilados pela ABPA. Em março, essa taxa era de 22%. O valor das vendas no período alcançou US$ 58 milhões ante US$ 32,2 milhões de todo mês de setembro de 2013.

Embora os preços médios na exportação de carne suína indiquem uma certa estabilidade, há relatos no mercado de cortes de pernil para a Rússia sendo negociados a US$ 6 mil por tonelada.

Fonte: Alda do Amaral Rocha e Luiz Henrique Mendes, do Valor Economico

domingo, 28 de setembro de 2014

Janaúba comemora frigorífico

Primeiro abate foi feito no último dia 22, e pelo menos 400 funcionários já foram contratados


FACHADA DO FRIGORIFICO MINERVA


Janaúba. Há quatro anos, em setembro de 2010, o frigorífico Independência fechava suas portas em Janaúba, Norte de Minas, demitindo mais de 800 pessoas. Há uma semana, ele voltou a funcionar, sob administração do grupo Minerva Foods, e trouxe de volta, pelo menos, metade dos empregos. “O primeiro abate aconteceu no dia 22 de setembro. Foram 450 cabeças, e essa deve ser a média por dia”, afirma o presidente do Sindicato Rural de Janaúba, José Aparecido Mendes.
O novo dono é um dos maiores do ramo do Brasil. Por meio da assessoria de imprensa, a empresa confirmou a reabertura.
Em meio à severa seca que castiga a região, a reabertura do frigorífico será uma redenção. “A nova indústria vai valorizar a produção de gado e aquecer a economia de Janaúba e da região. Já foram contratadas cerca de 400 pessoas, muitas delas que já tinham trabalhado no Independência. Mas existe capacidade para gerar até mil empregos, quando o funcionamento estiver em sua plenitude’, afirma Mendes. A estimativa é que, quando os investimentos forem concluídos, a capacidade diária de abate dobre.
Redenção. Com a seca, a escassez de pastos fez com que os pecuaristas antecipassem as vendas do gado. “Num raio de 300 km, o rebanho era de 3,3 milhões de cabeças e reduziu para 2,8 milhões nos últimos três anos, vendendo principalmente para o Mato Grosso e São Paulo”, afirma o presidente do sindicato.
Segundo ele, desde que o Independência foi fechado, as opções de envio do gado para o abate estavam todas a mais de 600 km de distância. “Eles são enviados para Belo Horizonte, a 600 km, para o Triângulo Mineiro ou Nordeste, que ficam ambos a 1.000 km. Agora, com a reinauguração do frigorífico em Janaúba, a economia com o frete será significativa”, explica.
O pecuarista Josino Araújo, 75, está animado. “Nossa margem de lucro vai melhorar muito. Hoje, eu mando o gado para o Triângulo, que fica a 700 km daqui. Para cada km, o frete é R$ 2 por cabeça. Agora vou mandar para aqui pertinho”, comemora Araújo.
Além do impacto no frete, a qualidade da carne também cresce. “Quanto menos o gado passa sendo transportado, menor é o estresse e a qualidade é superior”, explica o presidente do Sindicato Rural, José Mendes.
Atraso
UrubusA expectativa de reabertura era junho, mas pendências com a Agência Nacional da Aviação Civil (Anac) atrasaram. Foi preciso ajustes, já que a atividade atrai urubus e há um aeroporto perto.
Relembre
Em 2006
A massa falida do frigorífico Kaiowa, que decretou falência em 1990, foi arrendada ao Frigorífico Independência, e as atividades foram reativadas
Em 2010
O Independência também entrou em crise financeira e fechou as portas, demitindo mais de 800 pessoas em Janaúba
2014
Em fevereiro, o grupo Minerva comprou, por R$ 40 milhões, a planta de abate e desossa de bovinos em leilão judicial que ofertou os ativos da massa falida do Independência

http://www.otempo.com.br/capa/economia

O apetite da Minerva

Terceiro maior frigorífico do País une-se à BRF, líder no mercado de alimentos processados, e ganha musculatura para enfrentar a marfrig e o JBS

Por: Rodrigo Caetano



Carne de primeira: o presidente Fernando Galletti de Queiroz aposta na eficiência e no rebanho sul-americano para ganhar mercado
Carne de primeira: o presidente Fernando Galletti de Queiroz aposta na eficiência e no rebanho sul-americano para ganhar mercado ( foto: THIAGO BERNARDES/FRAME)



Para o empresário Fernando Galletti de Queiroz, presidente da Minerva Foods, terceira maior processadora de carne bovina brasileira, uma coisa é certa: se o negócio de sua empresa é produzir proteína animal, não há lugar melhor para estar do que a América do Sul. Segundo ele, todos os grandes exportadores mundiais estão enfrentando problemas. “Os Estados Unidos estão com o menor rebanho em 60 anos e a Austrália tem sérios problemas de mão de obra”, afirma Queiroz, numa referência aos maiores competidores do Brasil nesse mercado.
Ele acredita, ainda, que o cenário não deve mudar em menos de uma década, posição que é avalizada por muitos analistas de mercado. “As perspectivas para a indústria de carne bovina são muito positivas e o Brasil vai se beneficiar de uma forte demanda, tanto externa quanto interna”, diz Albert Vernooij, analista do banco holandês Rabobank. “Mesmo que a oferta cresça, os preços devem se manter firmes.” Caso as previsões estejam corretas, a Minerva estará, realmente, em uma posição privilegiada. Todos os seus ativos estão concentrados no chamado Cone Sul.
Além do Brasil, o frigorífico opera no Uruguai e no Paraguai. Queiroz espera ampliar a presença no continente, mirando, especialmente, a Colômbia, hoje dona do terceiro maior rebanho da região, atrás apenas do Brasil, líder mundial, com 208 milhões de cabeças de gado, e da Argentina. No início deste mês, o empresário ganhou mais um motivo para ficar otimista. O Cade aprovou, com restrições, a compra da Newco, divisão de bovinos da BRF, negócio fechado em novembro do ano passado. Pelo acordo, a Minerva assume as duas unidades de processamento da companhia de alimentos que, em troca, ficará com 15,2% do seu capital.
Com isso, a BRF passa a ser a segunda maior acionista da Minerva, atrás apenas da família controladora, e ganhará duas cadeiras no conselho. A aquisição aumenta em 20% a capacidade de abate da Minerva, hoje na casa de 15,8 mil cabeças de gado por dia, o que deve representar um acréscimo de R$ 1 bilhão no faturamento, que bateu na casa dos R$ 5,45 bilhões no ano passado. Mas os efeitos da transação não se resumem aos eventuais ganhos de curto prazo. Ela atende a anseios estratégicos tanto da BRF, que vem se desfazendo de ativos desde que o empresário Abilio Diniz assumiu a presidência do Conselho, em abril do ano passado, quanto da Minerva, cujo foco sempre foi o mercado de carne bovina.
Na verdade, a empresa possui uma divisão de alimentos prontos, a MFF, que representa cerca de 3% do faturamento. O Cade, no entanto, condicionou a aprovação do negócio com a BRF ao desmembramento da unidade. Segundo Queiroz, as estratégias das duas empresas são convergentes. Elas vinham procurando criar uma cadeia de produção, na qual cada empresa se preocupa apenas com o que faz melhor. “Já estávamos conversando com o pessoal da BRF e chegamos à conclusão de que existem muitas oportunidades conjuntas”, afirma. Mas há um motivo ainda mais forte para a formação dessa aliança: fazer frente ao JBS, maior empresa de proteína animal do mundo e principal competidor das duas parceiras.
O frigorífico comandado pelos irmãos Joesley e Wesley Batista é de longe o número 1 do setor de atuação da Minerva, seguido pela Marfrig. Agora, está apostando todas as suas fichas no mercado de alimentos processados, incomodando, cada vez mais, a BRF. Para a BRF, repassar a Newco para a Minerva foi uma maneira bem-sucedida de resolver a situação de sua divisão de bovinos, que não vinha apresentando bom desempenho.Não se trata de um negócio isolado. Desde que seu grupo assumiu o controle e a presidência do conselho da empresa, Diniz vem procurando se desfazer de ativos que não fazem parte de seu core business.
Ao mesmo tempo, ao garantir uma participação societária na Minerva, a empresa não precisa abandonar um setor estratégico, como o de carne bovina, garantindo matéria-prima para algumas linhas de produtos, como a de hambúrgueres. O alinhamento entre as duas parceiras, na verdade, é maior do que parece. Edison Ticle, diretor-financeiro da Minerva, lembra que Sérgio Fonseca, atual presidente da BRF Brasil, foi conselheiro do frigorífico. Apenas se unir, no entanto, não será suficiente para garantir igualdade de forças com o JBS, cujo faturamento, de R$ 92,9 bilhões no ano passado, é quase três vezes maior do que a receita da Minerva e a da BRF somadas.
Para fazer frente ao gigante, Queiroz aposta na eficiência. “Nosso negócio é gado, não fazemos outra coisa”, diz o CEO. Antes de assumir o negócio, com apenas 24 anos, em 1992, Queiroz trabalhava como executivo da Cargill, onde conheceu as peculiaridades do mercado de grãos. Foi inspirado nas grandes empresas de commodities que ele desenvolveu o modelo de atuação da Minerva. Sua grande tacada se chama Beef Desk, uma mesa de negociação de bovinos, que entra em operação todas as manhãs. Nela, os executivos da Minerva determinam onde comprar e abater os animais e para quem vender a carne.
Atualmente, mais de 80% da produção é exportada. Seus principais mercados são o Oriente Médio, a Rússia e a África. Embora esse número possa indicar uma dependência excessiva do mercado internacional, ele traz uma vantagem, de acordo com Queiroz, no preço da carne. “Os países europeus, por exemplo, demandam mais qualidade e pagam por isso”, afirma. Buscar os mercados que pagam melhor, aliás, é outra ideia trazida pelo executivo da Cargill. “Não há um setor tão eficiente em termos de estratégia de preços quanto o de grãos”, diz. A união com a BRF deve ajudar a Minerva, ainda, a recuperar a rentabilidade.
No ano passado, o prejuízo líquido registrado pela empresa, de
R$ 314,3 milhões, foi 58% maior do que o verificado em 2012. Já neste ano, a última linha do balanço ficou em azul nos dois primeiros trimestres, com lucros de R$ 69,1 milhões e R$ 18,5 milhões, respectivamente. O endividamento aumentou no segundo trimestre deste ano, passando de 3,31 vezes o ebitda (medida de geração de caixa), no mesmo período do ano passado, para 3,43. Segundo o diretor-financeiro Edison Ticle, no entanto, a dívida ainda se encontra em um patamar aceitável. “É preciso considerar os efeitos das aquisições que fizemos”, afirma o executivo. “Nos próximos trimestres a relação dívida/ebitda deve voltar ao patamar de 2,8 vezes que tínhamos em 2012.”
Hoje, o endividamento da Minerva é maior do que o do JBS (3,1 vezes). Mesmo assim, os papéis do frigorífico vêm apresentando um bom desempenho. Cotadas a R$ 13,01, no pregão da quinta-feira 25, as ações da Minerva cresceram 15% neste ano. Nos últimos três anos, o preço dos papéis mais do que dobrou. No campo, Queiroz se orgulha de manter uma operação profissional. Todos os anos, o frigorífico realiza um tour com seus acionistas pelas instalações da empresa em Barretos, no interior de São Paulo. O passeio inclui uma visita ao matadouro. Alguns convidados, é verdade, não se sentem bem ao testemunhar o abate do gado. Mas a intenção é, justamente, desmistificar a crueldade do ato.
A preocupação com bem-estar dos animais, mesmo no momento do abate, é grande. Ao chegarem à unidade, os bois são encaminhados a um curral climatizado. O caminho até o abatedouro é pensado de tal forma que os animais se sintam seguros. Para isso, mudam de posição algumas vezes, como se estivessem andando em um espiral. São apenas alguns segundos do momento em que suas cabeças são presas para receber o tiro da “pistola”, dispositivo de pressão que libera um projétil que o deixa inconsciente, até seu sangramento, quando, de fato, são abatidos. A partir daí, as carcaças entram em uma espécie de linha de desmanche, na qual tudo é aproveitado.

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