sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Chefe de órgão mundial diz não ver risco no consumo da carne brasileira

Atualizado em  14 de dezembro, 2012 
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Vaca no Paraná
Caso verificado no Paraná ainda está sob investigação da Organização Mundial da Saúde Animal
Os embargos impostos à carne brasileira por alguns países nos últimos dias, após a identificação de um caso de vaca louca no Paraná, são uma atitude compreensível, mas não refletem um risco real no manejo ou no consumo do produto, segundo afirmou à BBC Brasil o veterinário Bernard Vallat, diretor-geral da Organização Mundial para Saúde Animal (OIE).
Desde a semana passada, quando um exame laboratorial conduzido pela OIE confirmou a proteína causadora da doença em uma vaca morta em dezembro de 2010 em uma fazenda do município de Sertanópolis, três países - Japão, China e África do Sul - anunciaram embargos à importação da carne brasileira.
Outros países, incluindo a Rússia, maior importador de carnes brasileiras, e a Venezuela, quinto maior, dizem estudar a possibilidade de embargo. O Brasil foi o segundo maior exportador de carnes bovinas em 2011, atrás somente da Austrália.
A OIE, que é o órgão internacional responsável por avaliar as ações dos países no combate às enfermidades animais, mantém o Brasil em sua lista de países com risco "negligenciável" para vaca louca.
"O Brasil tem quase 200 milhões de cabeças de gado", afirma Vallat. "Não é um caso que vai mudar a avaliação da OIE sobre o país."
Ele aponta que existem outros países com casos identificados da doença (cujo nome técnico é encefalopatia espongiforme bovina, ou EEB) e que também podem ser considerados pela OIE no grupo com risco negligenciável.
"Mas quando um país notifica a comunidade internacional sobre a existência da doença, principalmente quando é a primeira vez que um caso é detectado no país, é aceitável que outros países adotem embargos à espera de mais informações", diz Vallat. "É uma prática comum."
Ele afirma, porém, que não há riscos para a saúde dos consumidores da carne brasileira. Além de o animal morto ter sido enterrado e não ter entrado na cadeia alimentar, ele observa que o consenso científico atual é de que mesmo o consumo de carne vermelha de animais contaminados não traz problema, apenas o de órgãos contaminados com a proteína causadora da doença, como cérebro ou medula espinhal.

Novas análises

Segundo diz Vallat, novas análises que estão sendo feitas no laboratório de referência da OIE para a doença em Weybridge, na Grã-Bretanha, deverão fornecer mais informações sobre o animal contaminado no Paraná e trazer pistas sobre a forma de contaminação.
A Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne) defende que o caso identificado na fazenda de Sertanópolis foi um caso "atípico", gerado por mutações genéticas espontâneas em um animal com idade avançada, e não resultado do consumo de proteína animal contaminada. Além disso, o animal teria morrido sem manifestar a doença, que pode ficar latente por vários anos.
Se confirmada a tese, o risco de haver novos casos ou de a doença se espalhar é reduzido. Não há transmissão da doença de animal para animal, e a contaminação ocorre somente pela ingestão de alimento contaminado por proteína animal com a proteína causadora da BSE.
A vaca contaminada no Paraná morreu em dezembro de 2010, com 13 anos, idade considerada avançada. Os primeiros exames realizados no Brasil não identificaram a proteína causadora da EEB, mas uma contraprova feita em junho teve resultado positivo. Uma terceira análise da amostra feita em Weybridge confirmou a doença no último dia 6 de dezembro.
Segundo Vallat, a demora em comprovar o caso no Brasil pode ser considerada normal, por conta da complexidade da doença. "Ainda existem polêmicas científicas sobre as causas da doença, sobre os diferentes príons (as proteínas causadoras da enfermidade) que circulam nos animais", diz.
Outra questão que deve ser analisada é a forma de contaminação. Como a doença pode ficar latente, é possível que a contaminação tenha ocorrido até 13 anos antes da morte do animal.
A OIE espera obter em algumas semanas o resultado final de sua investigação sobre o caso brasileiro, que deve ajudar a responder essas questões.

Impacto econômico

Carne brasileira
Brasil é atualmente o segundo maior exportador mundial de carne bovina
Vallat afirma que o atraso na confirmação da doença não indica uma falta de transparência por parte das autoridades brasileiras. "Não há benefício de se esconder um caso da doença para depois confirmá-lo", observa.
Ele comenta ainda que os grandes produtores e exportadores de carne agem com bastante cuidado no controle das enfermidades animais, por conta do impacto econômico que um eventual foco de doença pode ter.
O Brasil exportou no ano passado 1,1 milhão de toneladas de carne bovina, com um faturamento de US$ 5,4 bilhões (cerca de R$ 11,2 bilhões).
A Rússia, que ainda analisa um possível embargo contra o Brasil, foi o maior comprador de carnes bovinas brasileiras, com 20% do total. O segundo maior comprador, com 13%, foi Hong Kong, em princípio não afetado pelo embargo chinês.
A China importou diretamente apenas 2.947 toneladas de carne brasileira em 2011, o equivalente a apenas 0,27% do total das exportações brasileiras no período.
Os outros dois países que confirmaram embargos também importam pouca carne bovina brasileira. O Japão comprou no ano passado 3.271 toneladas (0,3% do total), enquanto a África do Sul comprou apenas 718 toneladas (0,065% do total).

'Precipitação'

O governo do Brasil vem lançando um esforço diplomático para tentar convencer os países que decretaram embargo de que não existe nenhum motivo para preocupação.
Missões foram enviadas ao Japão, à África do Sul e à China. O governo também aproveita a visita oficial da presidente Dilma Rousseff à Rússia para evitar que o país siga o mesmo caminho.
A delegação da oficial da visita de Dilma à Rússia incluiu vários representantes de exportadores de carne brasileiros.
Para João Almeida Sampaio Filho, vice-presidente de relações internacionais da Marfrig, um dos maiores frigoríficos do Brasil, as medidas de China, Japão e África do Sul são "alarmistas e desnecessárias".
Segundo Sampaio Filho, "o Ministério da Agricultura já deu todas as explicações possíveis e continua dando".
"A própria OIE já disse que não é o caso de mudar o status brasileiro, então a gente acha que houve precipitação desses três países", acrescentou.

BBC

Após banir aditivo, Brasil pode exportar mais carne à Rússia


Por Polina Devitt
MOSCOU/BRASÍLIA, 13 Dez (Reuters) - O Brasil pode acabar por aumentar suas exportações de carne bovina para a Rússia, seu maior comprador, após banir um controverso aditivo que promove o crescimento muscular em animais como suínos e bovinos, disse o órgão russo de controle da segurança alimentar nesta quinta-feira.
A Rússia intensificou os testes sobre as carnes importadas dos EUA e Canadá para identificar os traços do aditivo, um beta-bloqueador chamado ractopamina, na segunda-feira, e exigiu que as duas nações certifiquem suas carnes como livres da substância. Somente as exportações dos EUA para a Rússia valem cerca de 500 milhões de dólares.
A ractopamina está em uma classe de medicamentos conhecidos como inibidores ou bloqueadores que neutralizam os efeitos da adrenalina no sistema nervoso e diminuírem a frequência cardíaca. Na pecuária, promove ganho muscular.
O Brasil baniu o uso da ractopamina em 12 de novembro e eventualmente planeja ter um sistema segregado que possibilite a produção de carnes sem ractopamina para alguns compradores tais como a Rússia, e a utilização da substância na produção para exportação para outros destinos.
O órgão de segurança alimentar da Rússia, Rosselkhoznadzor, disse estar satisfeito com as garantias brasileiras, e afirmou que o Brasil pode, como resultado, aumentar sua atual participação nas importações russas de carne bovina, agora em torno de 43 por cento. Um aumento provavelmente causaria diminuições nas compras de carnes norte-americanas e canadenses enquanto a questão do teste de certificação não é resolvida.
"Está tudo certo com a carne brasileira. Eles garantiram que a carne que vem para a Rússia será livre de ractopamina", disse Alexei Alekseenko, porta-voz do Rosselkhoznadzor, à Reuters.
"Esta é uma medida bastante interessante pois eles poderão manter sua participação no mercado russo, e até aumentá-la", disse Alekseenko.
A Rússia importou 1,25 milhão de toneladas de carne vermelha, no valor de 4,47 bilhões dólares, de países não pertencentes à Comunidade de Estados Independentes (CEI) em 2011, com exclusão das miúdos, segundo dados aduaneiros oficiais.
A Rússia negou que haja motivação política por trás de suas restrições mais severas às carnes norte-americanas, dizendo que sua decisão foi puramente baseada em seus padrões de segurança alimentar.
Na última sexta-feira, mesmo dia em que o Senado dos EUA votou uma medida para "identificar e envergonhar" violadores dos direitos humanos como parte de uma lei de expansão do comércio com a Rússia, o país europeu exigiu que as carnes importadas dos EUA e Canadá sejam certificadas como livres de ractopamina.
Ironicamente, em um momento no qual a Rússia considera a possibilidade de importar mais carnes brasileiras, Moscou ainda está ponderando impor restrições ao produto do Brasil após um caso atípico de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), comumente chamado de mal da vaca louca, em um animal que morreu por outras causas no sul do Brasil em 2010.
O caso é tido "atípico", derivado de uma mutação genética mais comum em animais idosos que pode ter causado espontaneamente o agente da doença, diferentemente dos casos britânicos nos anos 80 e 90, causados por ração contaminada.
O animal foi enterrado na fazenda em que morreu, e nunca entrou na cadeia alimentar.
Alekseenko disse que a Rússia deve encerrar suas investigações sobre o caso brasileiro em breve. "Eu acho que os resultados devem ficar prontos em breve e então poderemos decidir o que fazer."
O Japão afirmou que suspendeu suas importações de carne bovina brasileira nesta segunda-feira e requisitou às autoridades do Brasil mais informações sobre o animal. Nesta quinta-feira, a África do Sul anunciou que havia suspendido as importações, assim como a China.
(Reportagem adicional de Anthony Boadle em Brasília)

Reuters Brasil-

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Brasil pode fazer recuar presença de carne americana no mercado de carne russo


Para atender às exigências do lado russo, Brasil impôs uma proibição temporária ao uso de ractopamina na alimentação de animais. Muito provavelmente, os brasileiros vão aproveitar a oportunidade para fazer os EUA recuar no mercado de carne russo. O Canadá também se declarou disposto a observar o novo regulamento veterinário do país.

Brasil pode fazer recuar presença de carne americana no mercado de carne russo
Foto: Kommersant
















Brasil e Canadá reagiram de forma a se adequar à decisão da Rússia de aumentar o controle sobre a importação de carne, ao contrário dos EUA, que a entendem como retaliação à Lei Magnitski. Para atender às exigências do lado russo, o Brasil impôs uma proibição temporária ao uso de ractopamina na alimentação de animais. Muito provavelmente, os brasileiros vão aproveitar a oportunidade para fazer os EUA recuar no mercado de carne russo. O Canadá também se declarou disposto a observar o novo regulamento veterinário do país.

Na última sexta-feira (7), o Serviço Federal de Vigilância Veterinária e Fitossanitária da Rússia (Rosselkhoznadzor) declarou que iria apertar o controle sobre as importações de carne produzida pelas empresas que utilizam a ractopamina. Esse aditivo nutricional é proibido nos países da União Aduaneira (Rússia, Bielo-Rússia, Cazaquistão), sendo, porém, amplamente utilizado no Brasil, EUA e Canadá como promotor de crescimento dos suínos e bovinos.

As autoridades brasileiras atenderam à posição russa e impuseram uma proibição temporária ao uso de ractopamina. Segundo a agência Reuters, a proibição, que entrou em vigor em novembro, vale também para os demais betaloqueadores utilizados pelas empresas de carne para estimular o ganho de peso nos animais.

“A medida terá validade até que as autoridades brasileiras competentes tenham pronto um sistema de divisão da produção de carne para separar a carne destinada ao consumo interno e à exportação para os países onde os aditivos em causa são permitidos das carnes destinadas aos países onde a ractopamina é proibida”, disse Carlos Mota, representante do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil.

No outono deste ano, o Rosselkhoznadzor havia informado as autoridades competentes brasileiras que iria reduzir o acesso de carne brasileira ao mercado russo se as empresas do Brasil não deixassem de usar a ractopamina na produção de carne.

Especialistas não descartam a hipótese de o Brasil tentar aproveitar essa ocasião para fazer os EUA recuar no mercado russo.

"Hoje, há uma boa chance de fazê-lo", acredita o porta-voz do Rosselkhoznadzor, Aleksêi Alekseenko.

Após a publicação da decisão do Rosselkhoznadzor, alguns especialistas americanos acusaram a Rússia de violação das regras da OMC (Organização Mundial do Comércio) e pediram às autoridades russas para reabrirem seu mercado à carne americana, afirmando que, caso contrário, as exportações de carne americana para a Rússia poderiam parar.

De acordo com a ANCR (Associação Nacional de Carne da Rússia), das 258,6 mil toneladas de carne suína trazidas para a Rússia em nove meses de 2012, 83,5 mil toneladas foram de origem brasileira, cabendo ao Brasil o segundo lugar entre os principais países exportadores de carne para o país.

Além disso, das 240,3 toneladas de carne bovina importadas pelo país, 184,7 mil toneladas foram de origem brasileira.

Compare-se: as importações com origem nos EUA totalizaram 56,8  mil toneladas de carne suína e 32,3 mil toneladas de carne bovina.

O Canadá também se declarou disposto a obedecer ao regulamento da vigilância veterinária russa. De acordo com o presidente da comissão executiva da ANCR, Sergêi Iuchin, a Associação Canadense de Exportadores de Carne Suína enviou à sua par russa uma carta em que garante que quase 50% dos suínos do país não têm mais em sua dieta a ractopamina. As empresas de carne canadenses não vão demorar a se adaptar às exigências das autoridades competentes russas, garante a Associação canadense.

A reação do México, outro importante fornecedor de carne bovina à Rússia, ainda é desconhecida.

Para a versão completa do artigo em russo, acesse: http://www.rbcdaily.ru/2012/12/12/market/562949985311754

Irã segue Japão e Rússia e põe carne brasileira sob suspeita

SAMY ADGHIRNI
DE TEERÃ
TATIANA FREITAS
DE SÃO PAULO
Folha de São Paulo


Autoridades sanitárias do Irã impediram o desembarque de um carregamento de carne do Brasil, dizendo temer possível contaminação pelo mal da vaca louca, e ameaçam suspender a compra do produto brasileiro.
Análise: Mesmo sem problema sanitário, produto já tem os seus "inimigos de plantão"
A iniciativa sucede a interrupção das compras de carne pelo Japão e aumenta temores de que a recente descoberta do agente causador da doença em um animal morto em 2010, no Paraná, agrave a queda nas exportações totais brasileiras.
A carga contida em quatro contêineres bloqueados em Bandar Abbas, principal porto comercial do Irã, foi detida dias atrás, em data não especificada, pela Agência Veterinária Iraniana (IVO, na sigla em inglês).
"Ainda não se sabe se a carne importada do Brasil está infectada com a doença da vaca louca. Mas, se estiver, suspenderemos todas as importações do país", disse Mohammed Yeganeh, diretor-geral da IVO, em declarações à imprensa iraniana.
Segundo ele, as compras de carne brasileira já estão sob investigação.
A decisão pegou de surpresa a Embaixada do Brasil em Teerã, que já vinha tratando do assunto com a IVO para tentar manter o fluxo de vendas ao Irã, um dos maiores mercados para commodities brasileiras no Oriente Médio.
Representantes da IVO haviam sinalizado apenas a possibilidade de cortar a compra de carne do Paraná.
O Ministério da Agricultura e a Abiec (associação dos exportadores de carne bovina) disseram não ter sido comunicados oficialmente sobre o bloqueio à carga.
A empresa JBS, uma das principais exportadoras de carne brasileira ao Irã, afirmou que a reação das autoridades iranianas não se justifica, pois é impossível detectar o agente analisando um carregamento de carne.
Segundo a companhia, os testes só podem ser feitos no cérebro e em partes do sistema nervoso do animal.
A JBS também argumenta que a OIE (Organização Mundial de Saúde Animal) decidiu manter a classificação do país como de risco insignificante para a doença.

Editoria de Arte/Folhapress
Carne para o irã
Carne para o irã

O problema surge em meio à retomada das importações de produtos brasileiros pelo Irã, que caíram no início do ano, sob o governo Dilma.
Para o Brasil, é possível alcançar a marca de US$ 2 bilhões registrada na corrente comercial bilateral em 2011, dominada com folga pelas exportações brasileiras.
RÚSSIA
A perspectiva de novos embargos afetou o desempenho dos frigoríficos no pregão da Bovespa de ontem. Os papéis da JBS recuaram 2,7%, os da Marfrig caíram 5,3% e os do Minerva perderam 4,5%.
O movimento de venda das ações do setor ganhou força devido à notícia de que a Rússia, principal destino das exportações de carnes, estuda suspender a importação da carne brasileira.
"Aparentemente o caso não representa um risco para a cadeia produtiva de carne, porém é difícil prever a repercussão sobre os mercados importadores, altamente exigentes e preventivos", avalia a Ativa Corretora.
O Ministério da Agricultura e a Abiec (associação dos exportadores de carne bovina) dizem não ter sido procurados por autoridades russas para esclarecimentos sobre o episódio envolvendo o agente causador da vaca louca.
O silêncio, no entanto, deve ser rompido hoje, em reunião entre o secretário de Relações Internacionais do ministério, Célio Porto, e o diretor da autoridade sanitária e fitossanitária russa (Rosselkhoznadzor), Sergey Dankvert, em Moscou.
A reunião, que antecede a chegada da presidente Dilma Rousseff à Rússia na próxima sexta-feira, já estava agendada para discutir o uso de ractopamina, um promotor de crescimento, nos animais.
Na semana passada, a autoridade sanitária russa publicou comunicado exigindo dos exportadores um certificado que ateste a ausência da substância nas carnes.
Como os exames para atestar a ausência desse promotor de crescimento são caros e demorados, há a expectativa de que a decisão russa provoque empecilhos às exportações brasileiras de carne.
A nova exigência russa ocorreu uma semana depois de o governo anunciar o fim do embargo à carne de Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul, após 17 meses de negociações.
A liberação das vendas dos frigoríficos considerados aptos pela autoridade sanitária russa a exportar àquele país também será tema do encontro de hoje.


Editoria de Arte/Folhapress

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

“Esperamos que o Brasil continue a fornecer carne à Rússia”


Segundo Benedito Rosa do Espirito Santo, diretor de Assuntos Comerciais Externos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil, expectativas são de que um certo número de frigoríficos de Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul deverão ser reabilitados para vender carne para a Rússia já no início do próximo ano
O Programa Voz da Rússia tem realizado uma serie de entrevistas com diversas personalidades relacionadas à visita que a presidenta Dilma Rousseff fará a Rússia entre amanhã e sexta-feira.

O engenheiro agrônomo Benedito Rosa do Espirito Santo, diretor de Assuntos Comerciais Externos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil falou sobre o nível das relações comerciais envolvendo os produtos agrícolas fabricados no Brasil e na Rússia.

Voz da Rússia: Se perguntarmos na Rússia quem é o principal fornecedor de carne para o país, teremos seguramente diversas respostas, tais como Estados Unidos, Canadá, Argentina, Austrália, mas nunca a resposta correta, que é o Brasil. Por que o Brasil não faz valer mais o seu peso como principal fornecedor de carne para o mercado russo?

Benedito Rosa do Espírito Santo: O Brasil é um fornecedor de larga escala de carne bovina para mais de 160 mercados. Entretanto, tal fato tomou essa dimensão apenas há poucos anos. Logo, o Brasil ainda está construindo a sua imagem de grande fornecedor para um número enorme de mercados. É verdade que o mercado russo é muito importante, e eu concordo com o que está implícito na pergunta, de que é necessário ao Brasil realizar maiores investimentos em imagem.

VR: O senhor não considera que seria mais recomendável resolver os problemas pendentes com o serviço de controle veterinário da Rússia em torno da carne brasileira, de forma a passar para os consumidores russos a verdadeira imagem da carne brasileira, de que ela é um produto de altíssima qualidade?

BR: Sim, eu diria que há esforços nessa direção e que, faz alguns anos, há momentos em que fazemos avanços e que recuamos. Ultimamente, no entanto, percebo que os avanços têm sido mais consistentes. As inconformidades, as diferenças de interpretação de normas, problemas com fornecimento de dados, relatórios, inclusive de laboratórios, compõem um contexto complexo. Eu reconheço que, ao longo dos últimos anos, tem havido problemas, mas há uma tendência para um trabalho na área da equivalência e nós todos acreditamos que, com a entrada da Rússia na OMC (Organização Mundial do Comércio), esse processo ficará um pouco mais ágil.

Do lado brasileiro, também reconhecemos que o universo de frigoríficos e abatedouros é enorme, que há sempre um número muito grande de frigoríficos solicitando habilitação, alguns deles já em vias de processo para a sua acreditação. Mas a própria seleção natural está indicando que, de agora em diante, teremos menores dificuldades para resolver essas inconformidades.

VRComo estão, neste momento, as restrições estabelecidas pelas autoridades russas para alguns frigoríficos brasileiros, oficialmente impostas pelos sanitaristas russos em 15 de junho de 2011?

BR: Efetivamente, em 15 de junho de 2011, a missão veterinária excluiu os estados do Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso da lista de Estados autorizados para o fornecimento de carne à Rússia. Posteriormente, o serviço veterinário russo enviou uma missão, que apresentou seu relatório. Este relatório foi analisado pelo Ministério da Agricultura, que identificou as inconformidades, deu explicações aos sanitaristas russos e fez um plano de correção, que está sendo enviado à Moscou.

O relatório russo chegou ao Brasil no final de setembro e, desde então, tem havido um trabalho sistemático por parte do Ministério da Agricultura. Nossa expectativa é de que uma lista de frigoríficos, que está sob análise pelo serviço veterinário da Rússia, seja autorizado a voltar a fornecer carne para o mercado russo e, com isso, o problema estará bastante diminuído em relação aos três Estados (Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul). Mas há de se reconhecer que existem mais 35 estabelecimentos de outros Estados brasileiros que estão habilitados a exportar carne para a Rússia.

VR: Logo depois da Perestroika, a Rússia importava 70% dos produtos agrícolas. Quem conhece um pouco a história do país sabe que essa festa não iria demorar muito tempo para os exportadores, como, de fato, não demorou. Quando a Rússia implantou o programa de agrobusiness, privatizou terras e aplicou recursos monstruosos no agronegócio, a situação começou a melhorar para os produtores russos e a piorar para os exportadores. Para o bom observador, ficou claro que os produtos de proteína animal, como suínos e aves, logo seriam produzidos pela Rússia, o que acabou acontecendo, permitindo que o país esteja hoje numa posição de praticamente autossuficiência. Por que razão os fabricantes brasileiros desses produtos não procuraram, e continuam a não procurar, parceiros russos e se conformam em perder mercado?

BR: Efetivamente, houve problemas com o setor de aves e suínos, mas eu diria que talvez tenha havido interferências de natureza comercial também. A questão abordada é muito importante. Por parte da Rússia, com o fim da Perestroika, aconteceram privatizações de estabelecimentos e a modernização do sistema produtivo russo. Já o Brasil se afirmou, nos últimos dez anos, como grande fornecedor do mercado de aves e, mais recentemente, os suínos criaram uma situação bastante positiva.

Hoje, do lado brasileiro, existe uma escala produtiva grande, mas temos deficiências que precisam e serão melhoradas, sobretudo em termos de logística de terminais nos portos, nos transportes, e na gestão de tecnologia de ponta, que deverão ser introduzidas no Brasil.

Quero dizer que os empresários russos podem e devem participar de um esforço de modernização de toda a cadeia produtiva de alimentos, desde a introdução de tecnologias no Brasil até a chegada ao consumidor russo. Acho que esse será um caminho proveitoso para ambos os lados, no qual há espaço para investimento dos empresários russos no que diz respeito a um trabalho conjunto com os brasileiros.

VR: Voltando à questão da carne bovina: será que não chegou o momento de procurar parcerias na área da alimentação, da produção e da reprodução do gado? Da mesma forma, na área da fabricação dos produtos industrializados da carne, estas medidas poderiam evitar que se repita o que aconteceu com a carne suína e com a carne de aves do Brasil, que diminuíram, significativamente, a sua presença na Rússia?

BR: Sem dúvida. Por exemplo, problemas de natureza burocrática, inconformidades, custo de produção indevido em função de problemas de logística, cronogramas de comercialização na Rússia e inconformidades do ponto de vista fitossanitário são enfrentados por todos os países que exportam. São problemas que existem e que os países buscam resolver.

Eu diria que este caminho requer uma atenção maior e, repito, é necessária a participação conjunta dos empresários russos em investimentos, de forma a resolver esses problemas do ponto de vista comercial. Ou seja, também tirando proveito de facilitação de negócios, da redução de custos e dos ganhos conjuntos com empresas brasileiras. Entendo que este é um caminho a ser construído conjuntamente pelas duas partes, russa e brasileira.

VR: Entre os produtores de carne do Brasil existe a convicção de que o mundo sempre vai precisar da carne brasileira. Não seria razoável buscar parceiros mais sólidos a longo prazo ao invés de, simplesmente, apostar na simples necessidade material do produto?

BR: Sim. Nós todos esperamos que o Brasil continue a ser um grande fornecedor de carne bovina para o mundo, especialmente para a Rússia, em função das condições naturais que o Brasil dispõe para produção e do nível de tecnologia já introduzida. Esse quadro nos apresenta uma situação de alta competitividade. O Brasil pode hoje mostrar ao mundo que o boi criado no país é essencialmente alimentado em regime de pastagem, que tem um nível de sanidade excelente. Não existem reclamações quanto a problemas de saúde por parte dos consumidores.

Há muitos anos, o Brasil exporta e não há problemas nessa área. Estamos conseguindo produzir uma tonelada de carne bovina a um custo da ordem de um terço do que se consegue na Europa. Portanto, esse quadro geral credencia o Brasil a receber parcerias importantes e a trabalharmos juntos com outros empreendedores. O Brasil é um nome em construção, assim como o empresariado russo é bem-vindo para trabalhar conjuntamente.

VR: Grandes cidades russas têm o costume de consumir sucos de frutas em quantidades muito próximas às das principais capitais do mundo. As lojas russas estão cheias de sucos produzidos em outros países mas, dificilmente, encontram-se na Rússia sucos de frutas tropicais. Como se explica isso? Estes fatos ocorrem por desconhecimento ou por inércia? Há falta de interesse em promover o produto nacional?

BR: Noventa por cento do suco de laranja consumido na Rússia é, praticamente, procedente do Brasil, mas comercializado através de outras grandes empresas de trading. Falta, realmente, mais informação e um trabalho consistente sobre a imagem do suco de laranja. Talvez a deficiência seja maior do lado brasileiro e não do russo.

VR: Esta mesma pergunta serve para as frutas tropicais. Os russos adoram melão, mamão papaia e manga, frutas autenticamente brasileiras. Por que estas frutas não chegam até eles?

BR: Infelizmente, o Brasil ainda não é um grande exportador de suco de frutas naturais, à exceção do suco de laranja. Cremos, firmemente, que esta é uma tendência natural. Por enquanto, o Brasil é um fornecedor de destaque de algumas das frutas mencionadas, e está aí um bom exemplo de onde os empresários russos podem se juntar conosco e produzir sucos de frutas diretamente para o mercado russo.

VR: A imprensa brasileira tem falado muito da importação pelo Brasil do trigo russo. Até que ponto esta informação procede? Não seria o início da exportação do trigo russo para o Brasil uma maneira de acalmar os ânimos e continuar daqui para frente a manter as relações do agrobusiness de uma forma mais tranquila e produtiva para ambas as partes?

BR: Sim, poderia. Agora, é preciso deixar claro que o Brasil é membro do Mercosul e da Organização Mundial do Comércio. Assim, estamos submetidos à algumas regras, que incluem uma tarifa externa comum de 10% para importação de trigo extra na zona do Mercosul. Os governos e empresários russos têm pedido o fim da cobrança desta tarifa. Infelizmente, não podemos retirá-la simplesmente para um único fornecedor pois teríamos, se fosse o caso, de retirá-la de todos os países que queiram exportar trigo para o Brasil.

Isso depende de um acordo com o Mercosul, mas, além desse item específico, não há nenhuma restrição à entrada do trigo russo no Brasil. Já foram feitas muitas tratativas junto à Associação Brasileira das Indústrias de Trigo, e nos informam que, em relação ao trigo russo, a disposição é a mesma da importação concedida a qualquer país, desde que o produto russo tenha preço e qualidade. Talvez possamos fazer um trabalho de maior divulgação conjuntamente com os órgãos do governo russo, e também da iniciativa privada, no sentido de divulgar melhor a qualidade e as possibilidades de exportação do trigo russo. Um dos problemas que podem ocorrer é a questão do frete, mas há possibilidades que precisam ser exploradas.

VR: O Brasil está demonstrando ao mundo os bons resultados obtidos com a agrociência. Não seria essa troca de experiências com a Rússia o início de um excelente relacionamento no setor agrícola?

BR: Sem dúvida. Hoje, as cadeias do agronegócio são longas. No Brasil, o processo produtivo absorve tecnologia de ponta e a Rússia é bastante avançada em diversos segmentos da ciência e da tecnologia, que podem ser incorporados ao processo produtivo brasileiro. A Rússia dispõe de tecnologia desde a engenharia genética e a biologia até o uso mais eficaz de defensivos agrícolas, de fertilizantes e da agricultura de precisão. Tudo isso abre uma grande possibilidade de troca de experiências em proveito mútuo.

VR: Em que, do seu ponto de vista, a visita da presidenta Dilma Rousseff poderá contribuir para que todos os aspectos que abordamos se tornem realidade?

BR: Os últimos entendimentos, no mais alto nível de governo entre nossos dois países, ocorreram entre os então presidentes Dmítri Medvedev e Luíz Inácio Lula da Silva. Posteriormente, o vice-presidente Michel Temer esteve em Moscou. Penso que a ida da presidente Dilma Rousseff à Rússia significará uma continuidade desse trabalho de aproximação de natureza geopolítica, que é fundamental para incentivar e empurrar as negociações para um campo pragmático e que, a partir dessa definição de prioridades, a presença de Dilma em Moscou certamente será entendida como uma declaração factual e firme de atenção e de prioridade com a nação russa e o governo russos.

Creio que essa aproximação e a definição de prioridades nos abrirão perspectivas para movimentos mais específicos, tanto por parte da burocracia, como do empresariado, para realizar investimentos e aumentar o comércio bilateral. A economia brasileira está em processo de construção. O país é muito grande. Temos deficiência na área estrutural, de transportes, infraestrutura portuária e homogeneização de procedimentos tecnológicos.

Do outro lado, a Rússia tem um nível bem desenvolvido nessas áreas e o país, repito, é muito bem-vindo para um trabalho conjunto no Brasil. A corrente de comércio entre Rússia e Brasil, que está em torno de US$ 8 bilhões, representa um valor muito aquém do que essas duas grandes nações podem fazer, e nós podemos avançar muito nessa área.

De um lado, temos a Rússia como um grande exportador de energia, armamentos, tecnologia, e bens de capital. Do outro, temos o Brasil como um grande exportador de produtos agrícolas. Em torno desses fatos, não se criou uma base para que essa corrente de comércio pudesse se multiplicar. Acho que esse deve ser um dos pontos que os dois presidentes, Dilma Rousseff e Vladímir Putin, devem tratar, de modo a que se abram perspectivas para que essa prioridade de natureza geopolítica se converta em prioridade de natureza comercial e de investimentos.

É uma grande tarefa de cooperação que precisa ser estudada, analisada e racionalizada para que os investimentos façam deslanchar a relação comercial, que interessa aos dois países, num cenário em que a China está ocupando um espaço crescente na América do Sul e no Brasil, em que a Europa apresenta dificuldades e recessão econômica e os Estados Unidos e o Japão registram crescimento mais lento.

Portanto, tudo indica que há um caminho comum que convém muito à aproximação crescente entre Brasil e Rússia. Com essa maior aproximação, deverão se multiplicar não só a corrente de comércio, como também as relações culturais entre os dois países.

VR: Vamos voltar à questão dos frigoríficos brasileiros temporariamente impedidos de exportar carne para a Rússia. O sr. disse que esses frigoríficos, dos estados de Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul, estão prestes a concluir os entendimentos com as autoridades sanitárias russas. É possível estabelecer um período de tempo em que os produtos desses frigoríficos poderão voltar ao mercado russo?

BS: Sim. Os últimos relatórios encaminhados pelo Ministério da Agricultura ao serviço veterinário russo comentam as deficiências e as consistências encontradas e citadas pela missão russa e abordam um plano de trabalho com a correção dessas inconsistências. Como esses relatórios já estão sendo encaminhados a Moscou, nossas expectativas são as de que um certo número de frigoríficos desses três Estados deverão ser reabilitados em um futuro próximo.

VR: O senhor acredita que isto poderá acontecer no início de 2013?

BR: Sim.

VR: Quando exatamente?

BR: O fluxo burocrático é lento e talvez nenhum de nós possa fixar uma data precisa, mas acreditamos o esse processo não será demorado.

VR: O importante a destacar é que os entendimentos entre Rússia e Brasil estão avançando?

BR: Sem dúvida, há um entendimento mútuo. Nós, pelo lado brasileiro, temos uma percepção de que a Rússia tem um plano de trabalho para atingir a autossuficiência na produção de carne de aves e suínos e pretende diminuir a sua dependência da carne bovina vinda do exterior.

Porém, nós temos a percepção de que a Rússia necessitará de carne bovina durante um bom tempo, e o Brasil é um fornecedor confiável, com um sistema produtivo que respeita o meio ambiente e está em condições de complementar o abastecimento do mercado russo.

Com relação à carne de ave e suína, e esta é uma opinião pessoal, o plano do governo russo encontra similaridade em outros países também. É natural que existam essas metas. Nós, do lado brasileiro, entendemos que se a Rússia tiver necessidade de um produto que estamos em condição de produzir com custos menores, podemos complementar a sua demanda com um produto que possa contribuir para o controle de preços a nível de consumidores. O Brasil está, felizmente, trabalhando com custos baixos em produtos como milho, um dos itens principais na formação de custos na avicultura e na suinocultura.

Por outro lado, a participação de capitais russos no processo ao longo da cadeia produtiva, desde a produção até a comercialização, incluindo a introdução de tecnologia de ponta, só reforçará essa aproximação e a possibilidade de novos negócios. Devemos então destacar que, entre russos e brasileiros, há uma simpatia e uma amizade recíprocas. Certamente isso aumentará no futuro e nos aproximará mais.

Fonte: gazeta Russa

Publicado originalmente no site diariodarussia.com.br

Governo tenta reverter embargo do Japão à carne bovina


O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento está tentando reverter o embargo japonês à carne bovina brasileira. Ontem (10), o órgão divulgou um comunicado afirmando que está empenhado em prestar esclarecimentos ao país asiático e às demais nações importadoras das carnes do Brasil.
Na sexta-feira (7), o Japão suspendeu as compras do produto alegando a comprovação de contaminação pelo agente causador da Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), também conhecida como doença da vaca louca. O embargo aconteceu após o governo brasileiro ter comprovado a presença do agente da doença em análises dos restos de uma vaca morta no Paraná, em 2010.
No documento divulgado nesta segunda-feira, o governo brasileiro argumenta que o caso do Paraná foi uma ocorrência não-clássica da EEB, ou seja,  apesar da presença do agente a doença não se manifestou no animal. De acordo com informações do ministério, a presença do agente da vaca louca foi descoberta dois anos depois da morte em análises extras dos tecidos. O comunicado informa que hoje o adido agrícola japonês no Brasil, Kentaro Morita, se reuniu com técnicos do ministério para obter informações sobre o assunto.
Ainda segundo a nota, o adido agrícola brasileiro no Japão, Gutemberg Barone, prestará amanhã (11) esclarecimentos ao diretor de Segurança de Importações de Alimentos daquele país, Hideshi Michino, e entregará um relatório completo sobre o caso. Barone deve entregar ainda às autoridades japonesas ofícios de entidades internacionais validando os procedimentos de defesa sanitária animal adotados pelo Brasil  O Ministério da Agricultura também planeja visitas técnicas aos 20 principais parceiros comerciais de importação de carne.

Fonte: JB 

Possível embargo russo às carnes brasileiras derruba ações do Minerva.


JBS, Marfrig e Brasil Foods também recuam, ainda que com quedas mais modestas

Por Mariana Mandrote 

SÃO PAULO - Sinais de que a Rússia, principal destino da carne bovina "in natura" do Brasil, pode seguir o Japão e suspender a importação do produto pressionam as ações de companhias do setor listadas na Bovespa nesta terça-feira (11).
Por volta de 11h15 (horário de Brasília), os papéis do Minerva (BEEF3) registravam forte baixa de 7,15%, valendo R$ 9,74. Os ativos de JBS (JBSS3 - 2,92% , R$ 5,66), Marfrig (MFRG31,51%, R$ 8,50) e Brasil Foods (BRFS3 - 0,31%, R$ 38,48) também figuravam na ponta negativa, ainda que com quedas mais brandas.
Segundo a imprensa internacional, o porta-voz do órgão russo de fiscalização de saúde animal comentou que o governo do país está analisando o possível embargo, por conta do caso de vaca louca no Brasil. Contudo, na opinião da equipe de análise da Ativa, mesmo com a decisão japonesa, o risco de uma restrição mais generalizada é um cenário pouco provável.
Isso porque, de acordo com os analistas, a OIE (Organização Mundial de Saúde Animal, na sigla em inglês) manteve sua posição de risco insignificante para a doença da carne brasileira e o segmento nacional se mostra atualmente muito competitivo, com maior oferta de gado e melhores preços.
Entenda o caso
Na última sexta-feira, o Japão suspendeu as compras de carne brasileira alegando a comprovação de contaminação pelo agente causador da doença da vaca louca. O embargo aconteceu após o Brasil ter comprovado a presença do agente da doença em análises dos restos de uma fêmea bovina morta no Paraná, em 2010.
O governo notificou a OIE (Organização Mundial de Saúde Animal, na sigla em inglês). Mas o organismo internacional manteve a classificação brasileira como "país de risco insignificante" para o causador da doença.
Minerva: o mais afetado
Apesar da avaliação da OIE ser positiva e o Japão ter pouca relevância nas importações brasileiras de carne (cerca de 1% do volume total), o caso ainda não foi esclarecido entre as autoridades. Por conta disso, a Ativa vê a notícia como negativa para as empresas do setor, principalmente para os papéis do Minerva, por ser um player especificamente de carne bovina.
Para os analistas, as ações de JBS e Marfrig também sofrerão com a maior volatilidade, enquanto a Brasil Foods não será tão afetada, por ter uma parte pequena (aproximadamente 9%) de sua receita proveniente desse segmento.
Fonte :
http://www.infomoney.com.br/

domingo, 9 de dezembro de 2012

Exportações mineiras de carne bovina somam US$ 280 milhões de janeiro a outubro


Valor é o maior desde o surgimento da crise internacional; vendas para a Rússia responderam por 38% da receita

por Globo Rural On-line
Ernesto de Souza
Juntos, Rússia, Chile e Hong Kong, compraram 57,6% das exportações de carne bovina mineira
De janeiro a outubro deste ano, as exportações de carne bovina de Minas Gerais somaram US$ 280,7 milhões, receita 9,2% superior à registrada no mesmo período do ano passado. As informações são do do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC)

De acordo com a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) do Estado, o valor registrado nos primeiros dez meses de 2012 é o segundo maior da série iniciada em 2001. “O maior valor obtido com as exportações de carne bovina por Minas foi US$ 295,7 milhões, cifra registrada em 2007, antes do início da crise econômicainternacional”, informa Márcia Aparecida de Paiva Silva, assessora técnica da Superintendência de Política Economia Agrícola da Seapa. RússiaChile e Hong Kongforam os principais destinos da carne mineira. Juntos, os três países juntos compraram 57,6% das exportações. 

Um dos fatores que contribuíram para a nova marca este ano foi o aumento das vendas para a Rússia. As compras 66,3% na comparação entre os primeiros dez meses de 2011 e 2012 e atingiram US$ 106,7 milhões. O valor corresponde a 38% da receita obtida com as vendas externas totais de carne por Minas no período analisado. Márcia Silva diz que o fim do embargo russo às carnes brasileiras, mediante a adaptação das indústrias nacionais às regras impostas por aquele país, é um incentivo para aumentar as exportações de carnes do Brasil. Embora os frigoríficos mineiros não tenham sido afetados pelo embargo, eles podem se beneficiar da abertura de mercados. 

Ela ressalta que o bom resultado das vendas externas de carne bovina foi destaque na análise do comportamento das exportações do agronegócio mineiro como um todo. “Em meio à crise internacional foi registrado desaquecimento geral das vendas externas do setor estadual. Com essa performance, as exportações do produto bovino superaram as vendas externas de carne de frango e se posicionaram como principal gerador de receita cambial do setor”. No período estudado pela pesquisa, as exportações mineiras de carne bovina representaram 39,2% das vendas externas do grupo das carnes. 
 

Japão proíbe importação de carne bovina do Brasil


Publicação: 08/12/2012 19:07 

O Japão proibiu neste sábado (8 de dezembro) a importação de produtos de carne bovina vindos do Brasil após à confirmação da presença da proteína do agente causador da doença da vaca louca (EEB) em uma fêmea que morreu em dezembro de 2010 numa fazenda de Sertanópolis, no Paraná, segundo autoridades do governo japonês.

De acordo com o ministério da saúde do Japão, é a primeira proibição de importações de carne bovina devido à doença, oficialmente conhecida como encefalopatia espongiforme bovina, desde dezembro de 2003, quando as importações de carne bovina dos Estados Unidos foram restringidas.

Para o Japão, o impacto da proibição deve ser limitado. Em 2011, o país importou do Brasil apenas 1.400 toneladas de produtos de carne bovina, o que representa 0,3% do total adquirido pelo Japão do exterior, segundo as autoridades japonesas.

O governo do Japão foi notificado da confirmação no sábado pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). A vaca onde foi encontrada a proteína, de 13 anos, teve morte súbita e não apresentou os sintomas da doença, como perda gradativa do controle motor. As autoridades japonesas disseram ter solicitado ao Brasil detalhes sobre o caso. As informações são da Dow Jones.

Risco insignificante

O governo brasileiro afirmou na última sexta-feira que estava preparado para contestar as possíveis restrições às exportações de carne relacionadas à confirmação da presença da proteína do agente causador da doença da vaca louca. O secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Enio Marques Pereira, destacou que, caso houvesse "decisão precipitada de algum país", o Brasil primeiro iria dar as explicações bilaterais e, se as argumentações não forem suficientes, pediria a aplicação do acordo sobre medidas sanitárias da Organização Mundial de Comércio (OMC), podendo até recorrer a um painel.

Pereira afirmou ainda que todo histórico da ocorrência foi repassado à OIE, que enviou ofício ao governo brasileiro mantendo o status de risco insignificante para EEB, a melhor classificação existente.
 
Colaborou : Jornal Diario de Pernambuco on line