segunda-feira, 16 de agosto de 2010

BBM faz parcerias para fomentar venda de carne via operações no mercado financeiro

O objetivo é criar uma nova cultura de comercialização assegurando o pagamento aos produtores

Nestor Tipa Júnior

Porto Alegre (RS)

O programa Bolsa da Carne, lançado pela Bolsa Brasileira de Mercadorias para fomentar venda de carne via operações no mercado financeiro, teve poucas negociações até o momento. Lançado em abril, o projeto até agora negociou 465 cabeças de gado, num total de pouco mais de R$ 500 mil em comercialização. A previsão inicial era de um volume de negócios em torno de R$ 2,5 bilhões ainda este ano.

Segundo o assessor de novos produtos da Bolsa, Edílson Alcântara, ainda é preciso criar uma nova cultura no setor.

- Estamos trabalhando com mudança de cultura. Estamos falando de um negócio que há mais de 100 anos é feito do mesmo jeito. O pecuarista liga para o frigorífico, o frigorífico vai lá e abate. Isso vem de várias gerações - afirma.

A medida recebe apoio do setor produtivo. Mas para o coordenador do Centro Boi, da Federação da Agricultura do Mato Grosso, Francisco de Assis Amaral, é preciso que o produtor demonstre interesse na operação.

- O produtor tem que querer. Ele tem o poder de fogo na mão. Se ele quiser negociar via bolsa, tem que bater o pé e dizer que só negocia via bolsa.


Segundo as regras do chamado Bolsa da Carne, as indústrias precisam depositar 90% do valor dos animais 48 horas antes da retirada do gado. Os outros 10% precisam ser depositados em até dez dias úteis na conta de liquidação da bolsa. Quem não cumprir o contrato paga multa de dez por cento à parte lesada. Amaral reclama que muitos frigoríficos não querem aderir à Bolsa.

- Não tem muito frigorífico que queira aderir. Se uma das partes não quer, aí fica difícil.

Para Alcântara, os pecuaristas devem ficar atentos com as negociações diretas com a indústria, principalmente num momento em que o mercado sofre com a inadimplência dos frigoríficos.

- É um processo que estamos vivenciando. Temos que convencer os frigoríficos de que este é um bom negócio para eles também. E o pecuarista também não pode dar crédito para os frigoríficos porque quem dá crédito é banco.

O representante da Bolsa Brasileira de Mercadorias informa que parcerias com federações de agricultura estão sendo feitas para divulgar e fomentar o programa. Alcântara afirma que a receptividade dos produtores quanto aos moldes da operação é positiva.

A reportagem procurou representantes da indústria para comentar o assunto, mas não houve retorno.